2 de janeiro de 2011

A sexta feira de Rubens


"Quem nunca se perde nos caminhos da vida, não conhece a vida de verdade"

Sexta feira!

Como toda sexta-feira, esta era a palavra que mais se ouvia naquele dia. Como em toda sexta-feira, as conversas entre as baias giravam muito mais em torno do pós-expediente que sobre os problemas a serem resolvidos ali mesmo. Como toda sexta-feira, o escritório começava a viver o fim de semana antes mesmo do fim de semana chegar.

Sexta feira é quando podemos quebrar a rotina! E como em toda sexta-feira, as mesmas panelinhas fazem os mesmos planos: o grupo da frente fala como adoram o fim de semana para descansar e assistir a um bom filme. Cada um assiste o seu e, na segunda-feira, eles contam o filme uns aos outros, sempre reclamando de como é difícil falar de um filme sem contar seu final ou acabar com seu suspense, sendo que na maioria dos filmes não existe suspense, e todos já sabem o final só de olhar a capa. O grupo do corredor dois combinava o horário do futebol. Era sempre a mesma discussão: uns queriam ver o treino da corrida, outros não podiam depois do almoço, pois tinham algum almoço de família. Já o grupinho da animação, que ficava lá no fundo, depois de cruzar todo o escritório, sempre combinava a baladinha e a cerveja de sexta a noite. E toda sexta-feira faziam um happy hour no bar da esquina, falavam de problemas do trabalho, reclamavam um pouco da vida, davam boas risadas, e saiam de lá direto para um lugar mais animado. E era a esse grupo que pertencia nosso herói.

No entanto, já há algum tempo, Ricardo pensava que se o fim de semana era para se quebrar a rotina, porque todo fim de semana tinha que ser igual? Claro, a rotina de segunda a sexta era quebrada, mas existia também uma rotina de fim de semana, e assim, os fins de semana perdiam parte do seu encanto. Era tudo previsível demais. O difícil era sair da inércia. Maldita inércia! A vida era arrumada demais. Toda noite antes de dormir, sua cama estava arrumada, e de certa forma, isso o irritava. Precisava de alguém que a desarrumasse!
Depois de muito tempo fermentando essas ideias, entrou em contato com um antigo amigo de faculdade. Desses que era pau pra toda hora. Bendita internet! Tornava muito mais fácil esse tipo de coisa. Contato com antigos amigos, de quem não se tem notícia há muito tempo, é por vezes um pouco embaraçoso. Mas agora já estava feito, e ele só torcia para que seu amigo não tivesse ainda sido adestrado pelo dia a dia.

Esta sexta, então, seria diferente. Ricardo saiu do trabalho, passou no mercado próximo de sua casa, comprou bastante cerveja para o fim de semana, e se preparou. Logo seu amigo chegou a sua casa, e começaram a conversar sobre como estava sendo a vida de cada um. Nenhuma grande surpresa. Claro que aquele cara ali na sua frente não era o mesmo que conhecera na faculdade, mas ainda assim continuava sempre disposto!

Beberam, conversaram, se empolgaram e, claro, passaram da conta na bebida. Como era bom voltar aos tempos de jovem! De repente, se se lembraram de Baudelaire, que em um dos seus poemas disse que quem não se perde nos caminhos de uma cidade, não conhece essa cidade de verdade, e pensaram o mesmo sobre a vida, reformulando a frase: “Quem nunca se perde nos caminhos da vida, não conhece a vida de verdade.” Era a desculpa que precisavam. Saíram e foram para uma balada que não conheciam direito. Entraram já quase em coma alcoólico. Ricardo não sabe bem como aconteceu, mas quando viu, estava num canto, atracado a uma loira. Para seu grau, uma bela loira por sinal: alta, traços fortes no rosto, corpo bem sarado, mãos grandes. Lembra de ter perguntado o nome a ela, e ela lhe disse com uma voz rouca, que  o deixava louco de tesão: Josy. De repente, no meio do tchacabum, passa correndo um funcionário. Ricardo não se lembra se era um barman, um segurança, enfim, ele só se lembra que o funcionário passou por Josy, olhou fixo para ela e disse: “RUBENS! CORRE QUE TÁ PEGADO FOGO!”. Ricardo ainda ficou alguns minutos em choque, tentando entender o que acontecia. Josy era, na verdade, Rubens? Tudo ficou embasado na sua cabeça, ainda mais quando a fumaça começou a tomar conta do ambiente. O que era pior? Ter beijado um travesti? Ou ter gostado de beijar um travesti? Bom... “quem nunca se perde nos caminhos da vida, não conhece a vida de verdade.” E essa era, de novo, a desculpa que ele precisava. Essa foi apenas uma esquina errada que ele pegou.

E na sexta-feira seguinte, o assunto da happy hour foi, o tempo inteiro, o fim de semana do Rubens. É. Ricardo não queria mais dar muitas chances para se perder. Havia desistido de vez da vida.


16 de dezembro de 2010

O apanhador de estrelas


Apanhador de estrelas:

Quanta gente vive com medo de se empolgar, de se deixar levar.
"Quanto mais alto maior o tombo, quanto maior o tombo maior a dor".
É o que dizem todos esses,
tão certos de que a qualquer hora alguma coisa irá lhes derrubar.
Eu não. Penso diferente.
Quanto mais alto conseguir chegar, mais perto do céu estou.
Tão perto que até tenho vontade de voar.
E já estive tão alto, acredite, que me senti maior que o mundo.
Até que tive aquela vontade de me jogar.
Mas claro, minhas asas foram fracas e despenquei até beijar o chão.
Ah... mas que gostoso foi a cair!
Sentir a adrenalina e a vertigem que disparam o coração!
Quando finalmente cheguei ao chão
Só o que senti foi aquela sensação de não saber o que fazer.
De novo me senti pequeno e engolido pelo mundo
Mas como num sussurro uma ideia tomou conta de mim:
Em meio a tanta estrela,
Porque não agarrei uma e a roubei do céu?
Acho que no infinito do universo uma só não faria falta.
Mas prometo a mim mesmo
Que ainda hei de encher um saco delas!
Cada estrela uma memória,
E vou provar à humanidade
Que mesmo com tanta ascensão voo e queda
Continuo caminhando
Esperando ansiosamente pela próxima vez que apanharei uma nova estrela amarela...

14 de dezembro de 2010

Os Meios ou os Fins?


 Esta não é uma história comprida. Mas, devo confessar, é um tanto quanto gorda. A vontade que me dá é de conta-la logo do fim, mas aí ela deixaria de ser uma história e seria, simplesmente, um fim! E o que são os fins, sem os meios?

Pra variar, tudo começa num sábado a noite. Não porque Mr. T havia feito grandes planos para a noite. Pelo contrário. Justamente por não ter plano algum se viu assistindo TV, e sentiu uma enorme depressão tomar conta de si. Aquele sentimento que todos nós devemos sentir vez ou outra, de que a Terra do Nunca está cada vez mais distante. A diferença entre nós e Mr. T é que ele foi fazer algo a respeito. Encheu a pança. Cobriu a pança com uma camisa. Encolheu um pouco a pança tentando parecer mais magro, estufou um pouco o peito tentando parecer mais forte, moldou seu topete com gel bozzano, colocou sua corrente prata e borrifou seu melhor perfume. Olhos para frente, o homem é um caçador. E ele estava pronto para sua caçada.

Encontrou uns amigos num posto perto dali. Bebida vai, bebida vem, saíram de lá para outro lugar. Não importa bem onde era. No ambiente esfumaçado de uma boate qualquer, entre mais bebidas, risadas e flertes, encontra uma guria, ou a guria encontra ele, e Mr. T se sente de novo vivo por inteiro! Primeiro o olhar, depois o beijo, quando percebeu já usava a mão inteira num frenesi de desejo. Não sabia quem era ela, mas tinha o mapa de seu corpo nas pontas de seus dedos.

Saíram logo de lá. No carro se beijaram por mais uns quinze minutos. E que guria era aquela, um beijo tão quente, seu corpo transpirava veneno, suas expressões faciais inspiravam em Mr. T os mais loucos desejos. Ele a convenceu a entrar em seu apartamento, e quem sabe comer alguma coisa. Comer era o que ele queria, e claro que ela sabia. Entraram na casa de Mr. T, em silencio para não acordar sua mãe, foram direto pro quarto. Calça prum lado, camisa pro outro, a corrente de prata já quente sobre corpo, quando a guria para seus beijos, o olha no olho e diz, com a voz tremula de desejo: “Então. O que você mais gosta de comer?” Mr. T com toda astúcia de um bêbado achou estranho aquela pergunta, mas falou logo a primeira coisa que lhe veio na cabeça: “LASANHA!”. Querendo saciar sua larica, Mr. t fez com que a moça batesse em partida O infeliz ficou lá. Deitado em pelo, e pensando no que tinha acabado de fazer. E antes de dormir, pensou, pensou, e pensou. “De que valem os meios, quando não chegamos nos fins?”.